F. Miranda Advogados
Juntando moedas em cima da mesa

DEVO, NÃO NEGO. É HORA DE CONVERSAR.

“O trem tá feio tá, tá de doer…
Tão me cobrando e eu não tenho nem pro mé
O trem tá feio tá, fazer o quê
Devo e não nego, pago quando eu puder”
Biguá e Biracy

Muito mais do que um dito popular, praticamente um mantra uniforme e difuso, presente desde o jargão clichê do devedor, até nos textos motivacionais que inundam rapidamente uma pesquisa na internet. E já que estamos na era digital, quem nunca usou essa que pode ser a Aquarela das desculpas tupiniquins.

O ditado não era bem assim! A versão clássica “devo não nego, pago quando puder” está presente por séculos. Sempre refletiu um período de dolorosa restrição orçamentária. Algo tão brasileiro que talvez merecesse um feriado nacional. No dia Nacional da Crise a inevitável reflexão sobre nossos tempos poderia favorecer a tomada de decisão mais atual, aplicável e urgente. E se os cenários já não eram promissores, em julho de 2019, os inadimplentes já eram 63 milhões de pessoas (praticamente 40% da população adulta do Brasil), o que virá a seguir nunca teve
precedentes.

É prudente aguardar novos estudos, mas antes do agravamento da pandemia, o Banco Central aponta para crescimento do endividamento em fevereiro, reportando que 45,5% das famílias brasileiras tem dívidas em bancos. O que já parecia uma tendência ruim, agora tem potencial de rompimentos de barragens nucleares. Contrair um débito e simplesmente protelar a sua quitação pode acarretar o crescimento exacerbado do comprometimento da renda familiar e da sanidade do devedor. O advento de novas tecnologias nos sistemas de cobrança, cadastro positivo, cadastro negativo, robôs que ligam, ligações fantasmas, mensagens, e-mails, acabam sendo tão custosas e impertinentes quanto processos judiciais que se arrastam com medidas de bloqueios, registros de penhoras, e em casos excepcionais, com a retenção da habilitação e passaporte. Como cantavam nossos músicos:

Eu já nem passo no mercado da esquina
No posto de gasolina e no boteco do seu João
A padaria que é do meu próprio cunhado
Não me vende mais fiado
Me cortou o leite e o pão

Como tudo tem um porém, se o cenário já não era dos mais animadores, agora depois do coronavírus, manter viva aquela acamada senhora Esperança é um exercício quase que de fé. Se não fé no divino seja ele qual for, fé na capacidade humana de reação.

Se assim de fato for, empoderando essa força de reação, os investimentos serão tão mais eficazes quanto mais se voltarem a restabelecer o mercado de consumo, animando a produção e reestruturando novas relações econômicas. Como não é pretensão deste texto falar ao ministro da economia, a melhor sensação que deveríamos estimular é a expectativa pela retomada. O que já tem sido o toque de caixa das principais instituições credoras.

Eles perceberam isso. As grandes instituições financeiras, credores em geral, senhorios e locatários, estão mais inclinados a conversações. Se o mundo vai caminhar para uma nova precificação, parece que só depende da capacidade de negociação de quem deve.

O mundo que está sendo resetado!

I OWE YOU

O similar na língua inglesa não tem o mesmo destino escuso do nosso. A tradução livre sugere um “Eu lhe Devo”, mas num tom de reconhecimento, honrado com gratidão, sempre é um compromisso. Uma expressão muito comum nos cinemas quando há uma interação salvadora entre dois personagens de uma situação crítica.

Bem, se já não faltam situações críticas, esse desfecho com final feliz talvez só dependa de uma melhor interação. Por que não conversar?

O poder do diálogo é surreal. Começa com o objetivo defender pontos de vista, considera e reformula convicções diferentes, permite ouvir o outro lado, trocar experiências e histórias de vida. Essa prática também já foi celebrada por outro bordão nacional “duas cabeças pensam melhor que uma”.

Conversar para resolver um conflito pode mostrar outras possibilidades que sequer tenha passado pelas melhores ideias e cabeças. O diálogo tem a capacidade de construir entendimentos que nos levam a romper as barreiras dos cenários já impostos e compreender as mudanças e transformações tão velozes nas nossas vidas. Na área financeira não é diferente: débitos e créditos fazem parte do nosso desenvolvimento. Transformar isto em algo incontrolável, desmedido e temido é o que não se deve deixar acontecer.

Conversar para resolver estas pendências é o melhor caminho. Aumenta a oportunidade de expor suas limitações, o que será considerado naquela carga de empoderamento para liquidar aquela dívida mais antiga, a fim de tranquilizar, trazendo uma sensação de bem-estar, livre daquelas infinitas ligações e e-mails de cobranças. E o melhor de tudo: conversando, e não sendo cobrado.

Conversando, se estabelece afinidades e essas por sua vez ajudam a enriquecer, fortalecer e criar laços de confiança na resolução daquele conflitos, alicerce fundamental para uma vida mais leve.

  • https://exame.abril.com.br/economia/inadimplencia-do-consumidor-cresce-em-julho-emrelacao-a-2018/
  • https://economia.uol.com.br/noticias/estadao-conteudo/2020/04/28/antes-da-criseendividamento-dos-brasileiros-ja-era-o-maior-em-quatro-anos.htm
  • https://www.youtube.com/watch?v=R-CaCdoqy6c

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