F. Miranda Advogados
mulher sentada em frente ao computador enquanto pensa

Ao compararmos a conduta da Humanidade em sua disposição temporal, vemos que diversas mudanças marcam a passagem dos anos. Lembrar dos anos 80 traz memórias culturais, de moda, corte de cabelo, gênero musical, que são muito diferentes de quando pesquisamos os anos 20, por exemplo. Mesmo para uma década inovadora, com a descoberta da penicilina por Fleming, os limites daqueles tempos parecem menores diante dos novos paradigmas que viriam dos primeiros celulares lançados ao mercado pela Motorola em 1984.¹

Desde quando decidiu sair da caverna para contemplar o fogo, o Homem ambiciona controlar os recursos naturais. Do fogo fomos ao espaço, e do espaço à outras realidades (virtuais ou expandidas), revelando uma gigantesca capacidade transformadora. Imensa. Atualmente disruptiva. Entretanto, ainda inferior à imposição da Natureza.

A História, ainda controversa sobre a relação entre neandertais e os sapiens, converge mais afinada à teoria evolutiva. A vantagem competitiva cultural, “como roupas melhoradas e redes sociais mais eficazes, como documentado por achados de ornamentação pessoal”² acabaram por ditar a prevalência do sapiens. Neste lapso temporal, a evolução exigiu dos nossos ancestrais uma dinâmica adaptativa que poderia ser radical. Mudanças de comportamento, modelos de gestão, elementos de cultura e, consequentemente, de prioridades se revelam fases indissociáveis das transformações humanas. E nenhuma dessas fases foram superadas navegando em águas pacíficas.

Contudo, a necessidade de mudança agora bate com urgência a nossa porta. Não foi uma era glacial, tampouco um meteoro, mas um vírus predador capaz de nos empurrar para uma mudança brusca nos estilos de vida. A capacidade de adaptação se tornou uma competência mais distintiva do que apenas a histórica condicionante de sobrevivência, especialmente nos ecossistemas organizacionais.

Freud explica que o conflito é estruturante do funcionamento psíquico. Hegel, influenciando Marx, pregava que a síntese deriva do confronto da tese com a antítese. Temos ainda as posições combatentes entre Nietzsche e Kant, tidos como os filósofos do conflito. Independentemente da posição filosófica, ou da mão que escreve, qualquer mudança sempre nos dá a opção de exercer a disposição para enfrentar o desconforto, lidar com a adversidade e se impor diante do conflito com a determinação de enfrentá-lo.

LAMARK OU DARWIN. EVOLUIR É A QUESTÃO

Ou bem pela teoria francesa pautada na melhoria pelo uso e desuso, ou bem na mais famosa teoria inglesa da seleção natural, a evolução sempre foi uma resposta aos momentos de mudança. Mais do que a adaptação, a evolução é fruto de uma ação, um trato mais assertivo e posicionado diante dos fatos da contemporaneidade.

Foi no século XVIII que Jean-Baptiste de Lamarck previu que uma força, quase que gravitacional, nos empurrava para a evolução. A lei do melhoramento constante vinha sedimentar as competências e características mais utilizadas pelos organismos vivos. Sendo natural a tendência em buscar a perfeição, deixaríamos de ter o que não usávamos, para nos preservar, melhorando o que era mais utilizado. A lei do Uso e Desuso, há dois séculos, nos alerta sobre o desenvolvimento dos órgãos e sua força de ação proporcionais ao seu emprego:

“A alteração física ocorre porque a mudança do meio externo exige uma nova necessidade (besoin); os fluidos e as forças corporais são mobilizados para modificar a estrutura que irá satisfazer a necessidade” Lamarck apudFrezzatti

Charles Darwin, depois de longas viagens em seu navio Beagle, elaborou “a teoria da descendência com modificação de seleção natural”, que é comumente simplificada na condição de luta pela sobrevivência e na seleção natural como uma função dessa sobrevivência. A contribuição darwinista parte da existência do conflito pela sobrevivência, com a perpetuação das capacidades mais bem adaptadas ao meio.

“Causas desconhecidas de mudança. (…) Toda espécie que muda, progride. Homem obtém ideias. O mais simples não pode evitar tornar-se mais complexo; e, se nós olharmos a origem primeira, deve haver progresso” Darwin – apud Frezzatti

Movidos por uma força quase gravitacional ou motivados pela luta de sobrevivência, fato é que o progresso evolutivo é inevitável e, por consequência, seus conflitos. É preciso concluir que todos os conflitos têm potencial (para além dos filosóficos) de se transformar em algo construtivo e relevante.

Estar abertos às novas ideias, dispostos a incrementos procedimentais, antenados às novas ferramentas e instrumentos, dispostos a lutar por um RECOMEÇO e se necessário, desconstruir conceitos e métodos. Redundante, porém válido lembrar, que os efeitos da evolução serão proporcionais às mudanças. Para mudar, é imperioso ter consciência de que o conflito fará parte desse processo.

Inovação: o segredo da FÊNIX!

A mitologia ocidental sugere uma autocombustão desconstrutiva como condição sine quo non para renascimento da Fênix. A mensagem é mais do que um incentivo de esperança quando é necessário o “novo”. É comum, e até justo, que o processo de transformação remete a um forte estado de risco e desconforto. Tão mais acentuado quanto mais agudas as novas práticas e quanto mais dispostos a “queimar” as velhas.

Agir em prol da mudança é mais aproveitável quanto maior a percepção da estratégia. Planejar, testar e implantar, com menos riscos, os incrementos ou transformações radicais, encontram desde Porter a Mintzberg caminhos estratégicos proveitosos para épocas de mudanças. Ajustes estratégicos, retomada de rumo, queima de velhas práticas e construção de novos conceitos com aprendizagem constante, formam esse conjunto virtuoso de práticas em favor de melhor proveito das mudanças.

Apesar da imprevisibilidade quanto aos reflexos da pandemia, adequações em todas as esferas da sociedade já estão sendo realizadas e tantas outras se mostrarão necessárias em breve decorrer do tempo. Essa urgência estabelece uma relação simbiótica entre a adaptação e as mudanças. No âmbito organizacional serão inevitáveis transformações sensíveis na relação com o consumidor, nas
relações trabalhistas e até mesmo na relação com o poder público.

Não existe um routemap simples e sequer um manual de como sobreviver ileso a uma crise ocorrida numa sociedade tão complexa. Mas há um consenso: a capacidade de se reinventar determinará o sucesso ou o fracasso do projeto de vida.

Em meio à pandemia, novas notícias todos os dias, legislações, jurisprudências, entendimentos doutrinários, orientações de como fazer isso ou aquilo e toda uma caixa de ferramentas que se apresentada como contornos de superação das adversidades. O teletrabalho, o home office, o home schoolling, as Inteligências Artificiais, as lives, são exemplos de caminhos adotados para viabilizar o andamento de planos e novos projetos.

Neste momento é importante contar um serviço personalizado para traçar estratégias contemplando a solução dos conflitos que vierem a ocorrer. Em um cenário sem precedentes construiremos juntos novos conceitos importantes para o novo mundo.

O diálogo entre as partes, a negociação e o bom senso entre os entes do judiciário, nunca foram tão importantes para a solução dos novos obstáculos que surgem em decorrência da aplicação dessas novas práticas. Essa é nossa aposta para o “Novo Normal!

Então, aproveite que saiu da sua zona de conforto e busque novas maneiras de fazer, novas ferramentas, novos caminhos. Experimente mais do que sobreviver, influencie, inove, mude completamente, seja disruptivo, comece de novo.

  • ¹ https://canaltech.com.br/inovacao/primeira-ligacao-feita-com-um-celular-completa-45-anos-relembre-ahistoria-111152/
  • ² Delson, E., Harvati, K. Return of the last Neanderthal. Nature 443, 762–763 (2006). https://doi.org/10.1038/nature05207
  • https://www.ft.com/content/19d90308-6858-11ea-a3c9-1fe6fedcca75
  • https://sciam.uol.com.br/neandertais-e-homo-sapiens-tinham-comportamentos-semelhantes/
  • https://www.nature.com/articles/nature05207
  • Frezzatti Júnior, Wilson Antonio. (2011). A construção da oposição entre Lamarck e Darwin e a vinculação de Nietzsche ao eugenismo. Scientiae Studia, 9(4), 791-820. https://dx.doi.org/10.1590/S1678-31662011000400004

 

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